Nascido em 1º de junho de 1807, descendente de pais ilustres e abastados provenientes de São Luiz do Paraitinga. Cresceu em Paraibuna, onde aprendeu os primeiros rudimentos, e foi educado segundo os recursos daqueles tempos.
Quando o capitão Antonio de Souza Carvalho, seu pai, morreu em 1825, deixou sua fortuna de 12 mil pés de café e produção de 900 arrobas de café para a viúva e o filho, que continuaram o trabalho diminuindo a cultura do café e produzindo milho e cana-de-açúcar. Dedicado à lavoura, compreendeu bem depressa que a fertilidade daquelas regiões e a salubridade daquele clima carecia de iniciativa poderosa para seu progresso e prosperidade.
Dominado por este ideal, nunca esmoreceu; empreendeu logo elevados projetos, cuja realização pudesse atrair para Paraibuna grande afluência de habitantes.
Conseguiu abrir uma nova estrada que mais facilmente comunicasse aquela localidade a São Sebastião e Caraguatatuba, outra a Jacareí e outra a Taubaté, passando por Caçapava velha; e quando a florescente Paraibuna, que desde 1666, não passava de uma pequena e obscura fracção, segregada da comunhão social, simples paróquia e sem nenhuma importância, já se predispunha para novos cometimentos, Marcellino insta com seu tio o venerando padre Valerio de Alvarenga Ferreira — para que este, pondo em jogo toda sua influencia politica e social conseguisse do governo de então os foros de vila para aquela povoação: acolheu benigno a ideia, e prometeu sua valiosa coadjuvação, mas arredou por algum tempo a atenção do jovem sobrinho, dos negócios de Paraibuna encaminhando-o para a carreira militar, então muito em voga: o faz assentar praça, como alferes, na guarda de honra de D. Pedro I, onde fez diversas corridas, e por suas maneiras afáveis e simpáticas granjeou muita amizade e adquiriu grande experiencia dos negócios públicos, porque acompanhava mais de perto o movimento politico de então.
Voltando de novo a Paraibuna não se deslembrou da sua ideia principal — de elevar Paraibuna a vila. O padre Valerio, vendo que a constância de Marcellino era inquebrantável, não duvidou mais pôr-se a frente da ideia, e conseguiu do governo o decreto de 10 de julho de 1832 que concedia os foros de vila à Paraibuna. Chegada a noticia deste facto à Paraibuna, todos os seus habitantes reuniram-se e o foram vitoriar, e o aclamaram seu bem-feitor. Desde então Marcellino já era chefe daquela localidade: nada se fazia sem ser ele ouvido, e ter a mais ativa parte. Por seu turno ele externava à cada passo as provas mais significativas de sua dedicação, lealdade e devotamento aos interesses daqueles povos.
Quando em 1842 a província passou por uma comoção revolucionária, Marcellino muito fez para dissuadir à seu venerando tio, o padre Valerio, que pouco tempo antes, sendo deputado geral, nutria estreitas e intimas relações com os chefes da Revolução, a que não aderisse à semelhante movimento, declarando-lhe que nada conseguiam, e que ao contrário retardando o progresso da província, muito entorpeceria a prosperidade de Paraibuna, por quem ele se havia dedicado em corpo e alma. O padre Valerio, porém, desprezou os conselhos do sobrinho.
Marcellino, com uma atividade e energia inexcedíveis, congregou os povos, e concitou-os a debelar a revolução, com armamentos, munições, e os precisos fornecimentos, feito tudo à sua custa, conseguiu um respeitável contingente, capaz de rechaçar qualquer invasão. Quando soube que o major Solidonio, comandando as forças legalistas, desembarcava em São Sebastião, facilitou-lhe todos os recursos para subir a serra, e vir engrossar as forças do governo. Forneceu àquele comandante viveres, dinheiro, expressos e um reforço de homens armados.
O major Solidonio aceitou o que necessitava, e exigiu que o mesmo Marcellino, então capitão de milícias, o acompanhasse até Taubaté. Dali agradeceu seus relevantes serviços, e comunicou tudo ao então presidente de província, barão de Monte Alegre, e que o tomasse na mais distinta consideração.
Monte Alegre, mandando chamar o capitão Marcellino à capital para conhecê-lo, abraçou-o, agradeceu por si e pelo governo aqueles importantes serviços, e pôs à sua disposição tudo quanto pudesse valer. O capitão Marcellino, porém, com uma abnegação sem par, agradeceu, e recusou todas as recompensas do governo, declarando, que nada mais fez—que cumprir um dever imperioso de cidadão: só uma coisa pedia, caso fosse possível, que era toda a benignidade, e mesmo anistia para o seu venerando tio o padre Valerio de Alvarenga Ferreira, que envolvera-se na revolução, por sugestões alheias, mas que, no coração daquele velho ainda ardia o amor da pátria e que ele de coração só almejava o bem dos paulistas e não seu massacre.
Monte Alegre mais uma vez o abraçou, e prometendo-lhe fazer o que fosse possível, pediu-lhe sua amizade.
Admirador de tanta generosidade e da magnanimidade, que tanto enobrecia o vulto já tão imponente do capitão Marcellino, Monte Alegre estreitou cada vez mais suas relações de amizade com aquele cavalheiro; e mais tarde, estando nos conselhos da coroa, distinguiu-o com a Comenda da Rosa, sem ele esperar. Marcellino depois recebeu também a Ordem de Cristo do mesmo barão de Monte Alegre.
Filiado à escola conservadora e chefe do partido em Paraibuna no ano de 1842, foi eleito deputado provincial em 1852 (9ª legislatura) e este honroso mandato lhe foi conferido por mais cinco legislaturas (10ª, 11ª, 12ª, 13ª e 20ª legislaturas). Sempre leal ao seu partido, seus esforços, atividade e dedicação não encontraram óbices: ele arrastava-se com denodo à quaisquer considerações, que não visassem o bem da província que o elegeu, e identificando-se com os interesses de Paraibuna, tudo fazia para que aquela localidade recebesse toda a soma de recursos a que tinha incontestável direito: estradas, pontes, edifícios públicos, como cadeia e matriz, tudo ele conseguia.
Conseguiu que Paraibuna fosse elevada a termo, e comarca, e a série de distrito eleitoral. E em 1857, por lei provincial do 30 de abril, conseguiu-lhe os foros de cidade.
Na reorganização da guarda nacional, conseguiu que se criasse ali um comando superior. E não foi, sem grande relutância, que, em 1854, seus amigos políticos conseguiram que ele aceitasse a nomeação do coronel comandante superior daquela comarca, cargo que ocupou até 1859. Ele por duas vezes recusou aquela nomeação, e indicou outrem, mas foi vencido, a vista das opiniões dos amigos e das conveniências partidárias.
Quando em 1856 tratou-se no 2º distrito eleitoral desta província (do qual Paraibuna era sede) uma luta titânica entre o próprio Partido Conservador pelas candidaturas dos senhores Carneiro de Campos (depois Visconde de Caravelas) e dr. Barbosa da Cunha, o coronel Marcellino, que estava comprometido pela candidatura do primeiro, se viu colocado "nos mais sérios e melindrosos apuros", como ele mesmo dizia.
A luta entre os próprios amigos, o dever de lealdade, a honra e probidade, a amizade, a gratidão e mais que tudo o cavalheirismo, exigiam que o coronel Marcellino se conduzisse nessa crítica emergência, de modo a conseguir uma solução honrosa e digna dos altos personagens que se digladiavam.
No dia 2 de dezembro de 1856, a cidade de Paraibuna tinha a honra de possuir todo o corpo eleitoral do 2º distrito, reunido ali. E o coronel Marcellino, naquele dia, talvez o mais amargurado de toda a sua vida, sabia manifestar a satisfação, o jubilo, de ter a honra elevada de hospedar a tantos e tão distintos correligionários e amigos.
O dr. Barbosa da Cunha, inteligência superior, amestrado e experimentado político, escudado por cartas de recomendação dos chefes da corte, Monte Alegre, Olinda e outros, empregava todos os esforços para fazer o coronel Marcellino ceder o terreno e consentir que o triunfo lhe pertencesse.
O coronel, porém, cheio de delicadeza, sem eloquência e sem a arte da persuasão daquele ilustrado amigo, respondia-lhe apenas que se colocasse em sua posição, e que, como juiz, resolvesse se lhe ficava honroso abandonar o conselheiro Carneiro de Campos, depois de haver pública e solenemente aderido à sua candidatura: por esta forma pode afinal fazer triunfar a lealdade e sinceridade do amigo.
O dr. Barbosa da Cunha, apreciador daquele elevado caráter, rendeu-lhe preito e homenagem, fazendo-lhe inteira justiça, morrendo seu íntimo e dedicado amigo, nunca nutrindo o menor ressentimento, ao contrário, elogiando aquele procedimento, digno de respeito e admiração.
Em 1858, o coronel fez uma subscrição entre poucas pessoas a fim de auxiliar a continuação da construção da Igreja Nossa Senhora do Rosário e a Santa Casa de Misericórdia do Divino Espírito Santo, em Paraibuna.
Casou-se com dona Feliciana Domingues de Castro, irmã do barão de Paraitinga, Manoel Domingues de Castro.
Vultos como o do coronel Marcellino se impõem ao conceito, respeito e admiração públicos: e por isso ele por muitas vezes foi eleito e exerceu o cargo de presidente da Câmara Municipal de Paraibuna, fez parte das mais honrosas comissões: exerceu diversos cargos de nomeação do governo, como delegado, juiz municipal, etc., nos quais cargos procurou pautar seus atos, tendo por norma a mais escrupulosa justiça e imparcialidade.
O coronel Marcellino faleceu no dia 14 de julho de 1883, aos 76 anos, na cidade de Paraibuna, onde viveu durante grande parte de sua vida. A sua morte, de acordo com os jornais da época, foi uma perda muito sensível para o Partido Conservador.
Atualmente, no município de Paraibuna, a popularmente conhecida "rua de cima" tem como nome oficial Rua Coronel Marcelino em sua homenagem.
Fontes
"Correio Paulistano" de 24 de julho de 1883 (artigo "Ligeiros traços do coronel Marcellino José de Carvalho").
Parahybuna (1932), João Netto Caldeira, pg. 99 e 100.
Chronologia Paulista (1904), José Jacintho Ribeiro, vol. 2, pg. 17 (biografia do barão de Paraitinga).
http://www.al.sp.gov.br/acervo-historico/base-de-dados/imperio/imperio_deputados.html
http://www.paraibuna.sp.gov.br/curiosidades.php
fonte: https://www.geni.com/people/Marcelino-Jos%C3%A9-de-Carvalho/4972830818820081052?through=6000000017213799329